quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ÍNTIMA COMPAIXÃO versus MERCADO GOSPEL

Levi B. Santos
Foi uma oração lida recentemente por acaso, na Internet, que me levou a escrever este ensaio. Há muito tempo já vinha refletindo sobre o “amor” interesseiro, sobre o amor condicionado a determinados paradigmas, que se tornaram jargões no meio evangélico. Percebi no meu meio de convivência a quase unanimidade expressa naturalmente através da seguinte assertiva: “Se não fosse a promessa do céu, e o medo de ir para o inferno, eu estaria no mundo gozando o que ele tem de ‘bom’, estaria ‘pintando e bordando’ ”, como se diz na gíria popular.

A bela e significativa oração de Rabia (mulher Iraquiana - 800 DC), resumiu para mim tudo que eu sempre queria dizer, que há tantos anos estava latente dentro de mim, e eu não conseguia passar para o meu interlocutor, pois não tinha sabedoria ou palavras para expressar convenientemente essa “Grande Verdade”. Algumas vezes que tentei expressar o meu ponto de vista sobre este tipo de “amor” que para existir necessita de uma troca, fui muito mal compreendido.
Gostaria que todos, sem exceção, deixassem as resistências ou parcialidades de lado, para refletir de forma acurada sobre o alto valor metafórico implícito na oração que se segue:
"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno. Se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso. Mas se eu te adorar pelo que Tu és, não escondas de mim a Tua face”. (Rabia 800 D.C.)
Imediatamente após ler essa interessante e sábia oração, me veio à lembrança a Parábola do “Bom Samaritano”.
A oração de Rabia trouxe para bem perto de mim a figura do Samaritano (excluído da sociedade).
Samaritano, como os demais, considerado por muitos como um ser da pior espécie. No entanto, moveu-se de “ÍNTIMA COMPAIXÃO”, porque não dizer “AMOR” prestando imediato socorro a um homem que havia sido assaltado, despojado e espancado, e que jazia quase morto a beira da estrada (Lucas 10: 30 à 37).
Não me passa, nem nunca passou pela minha cabeça, que aquele ato de AMOR executado pelo Samaritano estivesse vinculado a alguma coisa em troca. O samaritano excluído e marginalizado viu naquela cena a imagem de si próprio refletida no espelho de sua consciência.
Não! Não! Não tenho nenhuma dúvida, que se houve uma oração por parte do “Bom Samaritano”, foi uma oração idêntica à inspirada por Deus no coração da sua serva “Rabia”.
Amor ao próximo é a maior prova de adoração a Deus (quem fizer a um desses a Mim o faz). Sim, é possível amá-Lo sem pensar em recompensa ou castigo ─, que me perdoe o meu irmão Paulo de Tarso.
Mil vezes acreditar nesse tipo de amor (do Bom Samaritano), do que se render ao “amor” que barganha, que busca os próprios interesses, através de um “pragmatismo gospel” que mais parece um MERCADO de coisas, supostamente apresentadas como sagradas. Esse espírito de mercado vem de muito longe, pois os filhos de Zebedeu, à época de Cristo, queriam negociar o Reino de Deus, pedindo assentos à direita e à esquerda do Seu Trono. Cuidavam que se devesse servir a Deus por algo que não é Ele mesmo.
Em resumo, a história do “bom samaritano” se converte hoje naquilo de mais emblemático que Cristo deixou para os que querem entender que no relacionamento humano, o AMOR não pode estar atrelado a CONDICIONAMENTOS ou TROCAS. ELE É DE “GRAÇA” MESMO.
A compaixão, de que foi portador aquele samaritano foi espontânea e íntima. Compaixão que não tem esses atributos é pura exibição ou representação. E como qualquer representação, está presa aos falsos valores das estratégias mercadológicas.

Ensaio por: Levi B. Santos

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