"VEJA" DENUNCIA QUE EX-MINISTRO USA INFLUÊNCIA E DESPACHA EM BRASÍLIA
BRASÍLIA - Com os direitos políticos cassados e réu no processo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu mantém seu poder como comandante do PT e usa sua influência para conspirar contra a presidente Dilma, afirma reportagem publicada pela "Veja" desta semana. Imagens com data e horário divulgadas pela revista revelaram encontros de Dirceu com o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), parlamentares e integrantes do primeiro escalão do governo, em um quarto do Hotel Naoum, em Brasília, embora formalmente sem vínculo com o Planalto.
Nas imagens, é possível ver o ministro Pimentel, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e os senadores petistas Delcídio Amaral (MT), Walter Pinheiro (BA) e Lindbergh Farias (RJ) chegando ao quarto de hotel do ex-ministro, que é advogado e, atualmente, presta serviços como consultor. 6/6/2011 - 15:33:34 - Duração: 30 minutos | José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás: “Sou amigo dele há muito tempo, e não tenho que comentar isso (a reunião no hotel) com ninguém” - Reprodução/Veja
8/6/2011 - 8:58:12 - Duração: 28 minutos | Ministro Fernando Pimentel, PT: Adversário de Dirceu na campanha de Dilma, o ministro informou, por meio de sua assessoria, que conversa esporadicamente com ele sobre cenários políticos e econômicos - Reprodução/Veja
8/6/2011 - 13:16:13 - Duração: 24 minutos | Senador Eduardo Braga, PMDB: “Queria saber como o PT se posicionaria sobre o Código Florestal. Ninguém pode negar que a máquina partidária petista foi arquitetada e construída pelo Dirceu” - Reprodução/Veja
7/6/2011 - 15:52:47 - Duração: 54 minutos | Senadores Walter Pinheiro, Delcídio Amaral e Lindbergh Farias, PT: Os três senadores petistas se submetem a ordens de um cidadão com direitos cassados - Reprodução/Veja
8/6/2011 - 11:07:54 - Duração: 25 minutos | Deputado Cândido VacCarezza, PT: “Converso com o Dirceu com regularidade. Como o caso Palocci era palpitante, é possível que tenha sido abordado, mas não foi o tema central” - Reprodução/Veja
08/6/2011 - 11:25:47 - Duração: 34 minutos | Deputado Eduardo Gomes, PSDB: “Eu já me encontrei com ele num hotel, em espaços públicos. Não me lembro de ter ido a um quarto dele” - Reprodução/Veja
08/6/2011 - 16:52:40 - Duração: 41 minutos | Ex-senador Eduardo Siqueira Campos, PSDB: “Somos muito amigos. Já estive com ele várias vezes. O que nos une é o acordo que temos com o PT em Tocantins. Sacola? Não me recordo de ter levado nenhum presente para ele” - Reprodução/Veja
08/6/2011 - 16:52:40 - Duração: 41 minutos | Ex-senador Eduardo Siqueira Campos, PSDB: “Somos muito amigos. Já estive com ele várias vezes. O que nos une é o acordo que temos com o PT em Tocantins. Sacola? Não me recordo de ter levado nenhum presente para ele” - Reprodução/Veja
07/6/2011 - 20:22:42 - Duração: 25 minutos | Deputado Devanir Ribeiro, PT: “Faz muito tempo que eu não vejo o Zé Dirceu. Nem lembro quando foi a última vez” - Reprodução/Veja
A romaria ao "gabinete" de Dirceu ocorreu entre 6 e 8 de junho, em plena crise que culminou com o pedido de demissão do ex-ministro Antonio Palocci, substituído após a divulgação de sua evolução patrimonial.
No dia 8 de junho, às 8h58m, Dirceu recebeu a visita do ministro do Desenvolvimento, que permaneceu no quarto do hotel por 28 minutos. Perguntado sobre o encontro, Pimentel disse não se lembrar do assunto e nem de quem partiu a iniciativa da reunião. Mas admitiu falar com frequência com o ex-ministro sobre o contexto brasileiro.No dia 6, às 15h30, Gabrielli foi até o quarto de Dirceu, e ficou por meia hora. Segundo a "Veja", Dirceu represena empresas com interesses na Petrobras. Gabrielli, por sua vez, estaria atrás de apoio para se manter no cargo, segundo a revista.
Nos dias 7 e 8, após o acerto para que Gleisi Hoffmann sucedesse Palocci, já se anunciava a saída de Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais. Foi quando Dirceu recebeu os deputados petistas Devanir Ribeiro (SP) e Cândido Vaccarezza (SP), este último cotado para a vaga. O ex-ministro estaria atuando contra Palocci e fez lobby para Vaccarezza assumir o cargo, mas a presidente Dilma nomeou Ideli Salvatti.
Passaram pelo quarto de Dirceu o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o ex-senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO). A diária de R$500 seria paga pelo escritório do advogado Hélio Madalena, ex-assessor do ex-ministro.
A reportagem da revista Veja:
VEJA: JOSÉ DIRCEU MOSTRA QUE AINDA MANDA EM BRASÍLIA
Com 'gabinete' instalado em um hotel, ex-ministro recebe autoridades da República para, entre outras atividades, conspirar contra o governo Dilma
Desde que foi abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, tudo em que o ex-ministro José Dirceu se envolve é sempre enevoado por suspeitas. Oficialmente, ele ganha a vida como um bem sucedido consultor de empresas instalado em São Paulo. Na clandestinidade, porém, mantém um concorrido “gabinete” a 3 quilômetros do Palácio do Planalto, instalado numa suíte de hotel. Tem carro à disposição, motorista, secretário e, mais impressionante, mantém uma agenda sempre recheada de audiências com próceres da República – ministros, senadores e deputados, o presidente da maior estatal do país. José Dirceu não vai às autoridades. As autoridades é que vão a José Dirceu, numa demonstração de que o chefão – a quem continuam a chamar de “ministro” – ainda é poderoso.
A edição de VEJA que chega às bancas neste sábado revela a verdade sobre uma das atividades do ex-ministro: mesmo com os direitos políticos cassados, sob ameaça de ir para a cadeia por corrupção, ele continua o todo-poderoso comandante do PT. E agora com um ingrediente ainda mais complicador: ele usa toda a sua influência para conspirar contra o governo Dilma – e a presidente sabe disso.
A conspiração chegou ao paroxismo durante a crise que resultou na queda de Antonio Palocci da Casa Civil, no início de junho. Na ocasião, Dirceu despachou diretamente de seu bunker instalado na área vip de um hotel cinco estrelas de Brasília, num andar onde o acesso é restrito a hóspedes e pessoas autorizadas. Foram 45 horas de reuniões que sacramentaram a derrocada de Palocci e nas quais foi articulada uma frustrada tentativa do grupo do ex-ministro de ocupar os espaços que se abririam com a demissão. Articulação minuciosamente monitorada pelo Palácio do Planalto, que já havia captado sinais de uma conspiração de Dirceu e de seu grupo para influir nos acontecimentos daquela semana.
Imagens obtidas por VEJA e que estão na galeria que ilustra esta reportagem mostram que Dirceu recebeu, entre 6 e 8 de junho, visitantes ilustres como o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, os senadores Walter Pinheiro, Delcídio Amaral e Lindbergh Farias, todos do PT, e Eduardo Braga, do PMDB, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e os deputados Devanir Ribeiro e Cândido Vaccarezza, do PT, e Eduardo Gomes, do PSDB. Esteve por lá também o ex-senador tucano Eduardo Siqueira Campos.
Apesar de tantas articulações, Dirceu não conseguiu abocanhar cargos para seus indicados no governo. A presidente Dilma já havia sido advertida por assessores do perigo de delegar poderes a companheiros que orbitam em torno de Dirceu. Dilma também conhece bem os caminhos da guerrilha política e não perde de vista os passos do chefão. “A Dilma e o PT, principalmente o PT afinado com o Dirceu, vivem uma relação de amor e ódio”, diz um interlocutor da confiança da presidente e do ex-ministro.
Dirceu anda muito insatisfeito com o fato de a legenda não ter conseguido, como previra, impor-se à presidente da República. Dilma está resistindo bem. Uma faxina menos visível é a que ela está fazendo nos bancos públicos. Aos poucos, vem substituindo camaradas ligados a Dirceu por gente de sua confiança. E o chefão não tem gostado nada disso.
Procurado por VEJA, Dirceu não respondeu às perguntas que lhe foram feitas. A suíte reservada permanentemente ao “ministro” custa 500 reais a diária. Quem paga a conta é o escritório de advocacia Tessele & Madalena, que tem como um dos sócios outro ex-assessor de Dirceu, o advogado Hélio Madalena. Na última quinta-feira, depois de ser indagado sobre o caso, Madalena instou a segurança do hotel Naoum a procurar uma delegacia de polícia para acusar o repórter de VEJA de ter tentado invadir o apartamento que seu escritório aluga e, gentilmente, cede como “ocupação residencial” a José Dirceu.
O jornalista esteve mesmo no hotel, investigando, tentando descobrir que atração é essa que um homem acusado de chefiar uma quadrilha de vigaristas ainda exerce sobre tantas autoridades. Tentando descobrir por que o nome dele não consta na relação de hóspedes. Tentando descobrir por que uma empresa de advocacia paga a fatura de sua misteriosa “residência” em Brasília. Enfim, tentando mostrar a verdade sobre as atividades de um personagem que age sempre na sombra. E conseguiu. Mas a máfia não perdoa.
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