Quem está do "lado de cá", sabe bem que isso é uma utopia, uma doce ilusão alimentada pelo romantismo dos que idealizam as instituições e os homens. Se analisarmos com frieza e objetividade, veremos que a realidade é bem outra, uma realidade lamentável... Homens que chegam a se odiar, que tentam prejudicar uns aos outros de todas as formas possíveis, que se esquecem dos laços de irmandade em troca de postos, condecorações, cargos, honrarias...que muitas e muitas vezes, sabendo que um "irmão" está passando por momentos difíceis, dão risada, fingem não ter conhecimento sobre o fato, mentem descaradamente, ludibriam, logram e prejudicam escancaradamente àqueles a quem deveriam estar unidos pelos doces laços da fraternidade e do respeito mútuo.
Um espetáculo de lamentável hipocrisia pode ser visto por ocasião daqueles discursos pomposos, carregados de termos como "Poderoso", "Amado", "Sereníssimo", "Soberano", "Especial", "Sapientíssimo" quando proferidos por verdadeiras lavadeiras e comadres que passam grande parte do seu tempo a "esfregar" a vida alheia contra as duras pedras da sarjeta, a criticar a todos quantos não reproduzam fielmente os seus pensamentos e a tentar "escalar" por sobre as cabeças para galgar mais um degrau de "glória maçônica"...
Além disso, é chocante ver como se usa, sem a menor vergonha, a retórica vazia do "irmão". É "irmão" pra cá, "irmão" pra lá, quando, na verdade, é "maldito" pra cá e "desgraçado" pra lá. Um quer ver o outro morto, estirado sobre um esquife (e não é o simbólico não) e, mesmo assim, vão levando a patifaria da "irmandade sincera", fingindo na cara-de-pau um amor regado a elogios falsos enquanto tentam expulsar o outro da Loja, envolvê-lo em uma situação constrangedora, apunhalá-lo pelas costas fingindo "dar apoio", forjando fatos mentirosos e jogando a reputação do outro no lixo sem o menor pudor.
Certas intrigas ocorridas em meios maçônicos fariam corar as mais experimentadas fofoqueiras de bairro. Usar pessoas para se atingir um objetivo pessoal nada nobre, é prática da qual muitos "irmãos" são useiros e vezeiros. Fala-se muito em "tolerância" como se isso fosse a "virtude mor" dos maçons brasileiros. Isso é uma mentira!
Muitos maçons amapaenses confundem tolerância com permissividade, confundem liberdade de pensamento com confusão, falta de método e libertinagem intelectual... Querem ver onde está a "tolerância à brasileira"? Basta ver os ataques velados e abertos contra o agnosticismo do Rito Moderno que os "religiosos" lançam como bomba de estilhaços, sem se importar em desrespeitar a liberdade de consciência alheia. Taxam os modernistas de "ateus", o Rito Moderno de "ímpio" e "irregular", jogando acusações esdrúxulas e sem fundamento por sobre todos aqueles que "ousaram" pensar de forma diferente... Do outro lado, os irmãos agnósticos, esquecendo-se que a maçonaria deve ser um "centro de união, e o meio de firmar uma amizade sincera entre pessoas que teriam ficado perpetuamente distanciadas", passam a atacar de forma grosseira às crenças alheias, ridicularizando tudo aquilo que é sagrado para os que crêem, desrespeitando, da mesma forma, a liberdade de consciência dos teístas. Isso é tolerância?
Será tolerância reagir com um ódio mortal contra quaisquer críticas que lhe atinjam de algum modo? É tolerante mandar um Aprendiz calar a boca quando ele levanta críticas reais e pertinentes? Quem ainda não viu essa cena? Quantas e quantas discussões ferozes, causadoras de um ódio profundo entre "irmãos" não nasceram de uma crítica que machucou a vaidade de alguém? Onde está o espírito de se fazer e ouvir críticas com uma intenção construtiva? Tudo o que se fala é para achincalhar o outro, botá-lo em situação constrangedora na frente da Loja toda, rebaixá-lo, arrebentar com sua auto-estima. Da mesma forma, toda e qualquer crítica, por menor que seja, é o bastante para cegar de raiva quem a recebeu, socar a mesa, gritar com os olhos injetados de furor, pedir o Quite Placet e amaldiçoar quem criticou "per saecula saeculorum Amém".
O irônico disso tudo é que, quando estávamos na Câmara de Reflexão, nossos olhos leram palavras como: "Lembra-te que és pó e ao pó tornarás"; "Se tens receio de que descubram teus defeitos, não estás bem entre nós"; "Se és apegado a distinções mundanas, sai; aqui não as conhecemos"...
A grande questão que se apresenta, mediante essas constatações é: Nós entramos na Maçonaria, mas terá a Maçonaria entrado em nós? Quanto de Maçom temos realmente?
Onde está o real espírito de fraternidade maçônico? Perdeu-se na brutalidade e vulgaridade de nosso século? Está escondido em algum templo abandonado? Perdeu-se junto com a palavra do Mestre? Onde estaremos nós, quando um irmão necessitar?
Reflitamos seriamente no sentido real de se vestir um avental maçônico...
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