Por
Reinaldo Azevedo em VEJA
No post anterior
(leia antes de ler este), escrevo sobre a patrulha a que o setor gay do PT está
submetendo o senador Lindberg Farias (PT-RJ) por conta da defesa que ele fez do
pastor Silas Malafaia numa ação movida contra o religioso pelo Ministério Público
Federal. Tudo começou com a passeata gay do ano passado, em São Paulo, quando
12 modelos, caracterizados como santos católicos, desfilaram em situações
homoeróticas. Escrevi, então, o texto que segue abaixo. Quem já leu e lembra e
tudo deve deixá-lo pra lá. Quem não conhece terá alguns elementos a mais de
reflexão.
Tenho feito aqui
uma distinção, que considero importante, entre os homossexuais e os militantes
homossexuais, que formam uma espécie de sindicato. Tanto é assim que já há até
divisões entre grupos envolvidos com a parada gay. As bizarrices que se veem na
avenida, na sua expressão mais carnavalizada, não são representativas dos
homossexuais como um todo. Fico cá me perguntado qual seria a caricatura
correspondente de um heterossexual. Não deve ser algo que atenda ao bom senso e
ao bom gosto. Muito bem.
Os organizadores da
parada gay deste ano, sob o pretexto de combater o preconceito, resolveram, de
cara, partir para a provocação. O tema do “samba-enredo” era “Amai-vos uns ao
outros”, numa evocação da mensagem cristã, que passa a ter, evidentemente, um
conteúdo “homoafetivo”, como eles dizem, e, dado o conjunto da obra,
homoerótico. É uma gente realmente curiosa: quer a aprovação de um PLC 122 -
que, na forma original, impunha simplesmente a censura aos religiosos -, mas
reivindica o direito de se apropriar de emblemas da religião para fazer seu
proselitismo. E isso, claro!, porque eles só querem a paz, a igualdade e
convivência pacífica…
Pois bem: esses
sindicalistas do gayzismo - que, reitero, representam os homossexuais tanto
quanto a CUT representa todos os trabalhadores - acharam que aquela provocação
não tinha sido o bastante. Como nem evangélicos nem católicos reagiram à
bobagem, então resolveram dobrar a dose. A organização do evento espalhou 170
cartazes em postes da Paulista em que 12 modelos masculinos aparecem quase
pelados, em situações de claro apelo erótico, recomendando o uso de camisinha.
Até aí, bem! Ocorre que eles aparecem caracterizados como santos católicos, a
exemplo de São Sebastião e São João Batista. Junto com a imagem, a mensagem:
“Nem Santo Te Protege” e “Use Camisinha”.
Fingindo-se de
tonto, Ideraldo Beltrame, presidente da parada, afirma ao Estadão:
“Nossa
intenção é mostrar à sociedade que todas as pessoas, seja qual for a religião
delas, precisam entrar na luta pela prevenção das Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST). Aids não tem religião”.
É uma fala
hipócrita, de conteúdo obviamente vigarista, própria de um provocador. Ele
poderia ter passado essa mesma mensagem sem agredir valores e imagens que sabe
caros a milhões de pessoas que não partilham de sua mesma visão de mundo. Mas
quem disse que o negócio dele e tolerância?
É bem possível que
o ministro Celso de Mello, com aquele seu tratado sobre a liberdade de expressão
que emprestou sentido novo à palavra “apologia” (no caso das marchas da
maconha), veja na manifestação não mais do que a expressão livre do pensamento.
Os 12 modelos desfilavam num carro. As imagens dos “santos” vão decorar 100 mil
preservativos, que serão distribuídos. Será mesmo que Beltrame está preocupado
em dialogar com católicos, evangélicos ou quaisquer outros que não partilhem de
seus valores? Trata-se de uma óbvia agressão aos valores católicos, que viola
direitos que também estão protegidos pela Constituição.
Resta evidente que,
embalados pela disposição do próprio Supremo de cassar o Artigo 226 da
Constituição para reconhecer a união civil entre pessoas do mesmo sexo, os
sindicalistas do movimento gay perderam o parâmetro, a noção de medida. Sexualizar
ícones de uma religião que cultiva um conjunto de valores contrários a essa
forma de proselitismo é uma agressão gratuita, típica de quem se sente
fortalecido o bastante para partir para o confronto. Colabora com a causa gay e
para a eliminação dos preconceitos? É claro que não! Não são eles a dizer que
não querem mais ser discriminados nas escolas, nas ruas, campos
construções? Você deixaria seu filho entregue a um professor que acha São
João Batista um, como posso dizer, “gato”? Que vê São Sebastião e não
resiste ao “apelo erótico” de homem agonizante, sofrendo? O que quer essa
gente, afinal? Direitos?
Ainda é tempo de
recuar e desculpar-se, deixando de distribuir os preservativos com as tais
imagens. Mas não farão isso. E por que não?
Vanguarda
Na Folha de hoje,
escreve o colunista Fernando Barros:
“A Parada Gay e a Marcha para Jesus têm mais ou menos a mesma idade. Ganharam
visibilidade no país em meados dos anos 1990. Embora sejam eventos globais, com
inserção em várias cidades, é em São Paulo que elas de fato acontecem. São o
sagrado e o profano, a expressão ritualística ou carnavalizada da afirmação de
valores e de direitos de grupos sociais. Neste ano, mais do que nunca,
evangélicos e gays & simpatizantes disputaram um cabo de guerra, uma peleja
entre o atraso e a vanguarda em matéria de costumes. Ambos, porém, são
fenômenos contemporâneos. O embate entre eles desenha uma dialética entre
regressão e avanço social no Brasil. Conservadores e intolerantes, os adeptos
de Jesus investiram contra a decisão recente do STF, que reconheceu a união
civil de casais gays.”
Barros submete os
dois eventos a uma leitura marxista - ou marxistizada ao menos - e, consoante com o método, destitui uma e outra do
conteúdo específico para ver em ambas aquela que seria a pulsão da história:
regressão e avanço. Nesse caso, segundo ele, a vanguarda estaria com os gays, o
que seria, digamos, kantianamente notável. Seguisse toda a humanidade o exemplo
dessa minoria “vanguardista”, Marina não teria de se preocupar com a destruição
das florestas e com as mudanças climáticas. Num prazo que nem seria tão longo,
o capital não teria mais como se reproduzir porque também ele depende de uma
conjunção específica, não é mesmo? Seria uma vanguarda que nos conduziria à
extinção. Só os grilinhos continuariam a cantar em louvor à natureza, a que
responderiam os sapinhos, coaxando. De vez em quando, uma onça…
Barros não é bobo,
e, por isso mesmo, enfatiza: trata-se de “vanguarda” e “regressão”, mas só “em matéria de costumes”. Afinal, milhões de evangélicos que ocuparam as ruas e praças se confundem,
em muitos aspectos, com a tal nova “classe C”, que é considerada até bastante “vanguardista”
pelos economistas. Curiosamente, concorre para tanto justamente alguns costumes
que o articulista considera “regressivos”, de modo que estaríamos, então,
diante de uma, sei lá, “tensão dialética” dentro do mesmo lado: um avanço na
economia seria determinado, em boa parte, por uma regressão - ele nem mesmo
fala em conservação - nos costumes.
Fico cá imaginando
se Max Weber - que não era marxista, por suposto - tivesse aplicado essa mesma
leitura ao escrever “A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo”… Em vez
de identificar alguns valores que fizeram a revolução capitalista, teria visto
só um bando de “regressivos”, dispostos, já que regressivos, a fazer o mundo
marchar para trás…
A questão
Esse sindicalismo
gay só decidiu partir para o confronto e não vai reconhecer a agressão estúpida
aos católicos - própria de quem não quer a paz coisa nenhuma! - porque foi
adotada justamente como “vanguarda”. E, vocês sabem, é vanguardista atacar a
Igreja Católica desde o século… 16!
É o caso de a
Igreja reagir com o devido rigor. É claro que estamos diante de um ato de
vilipêndio, que nenhuma religião deve aceitar, sobretudo porque também é um bem
protegido pela Constituição. Há de reagir em nome dos seus fiéis, sabendo, de
antemão, que vai ser atacada pela imprensa porque, hoje em dia, ter uma
religião também não é uma coisa de vanguarda - desde o século 18, pelo menos, é
assim… Estamos, como vocês podem notar, diante de ideias realmente novas, que
antecipam o futuro…
Que a Igreja Católica,
pois, tenha a coragem de apanhar dos jornalistas. A questão é saber quem são
seus interlocutores. Se preciso, que vá às portas do Supremo. Se os valores de
uma religião não são mais um bem protegido, vamos, então, ouvir isso da boca de
nossos doutores. Se for o caso, os católicos pedirão, no mínimo, os mesmos
direitos de que gozam os índios, cujas crenças são acolhidas no Artigo 231.
Militância em favor
dos direitos dos homossexuais é uma coisa; perverter imagens religiosas,
emprestando-lhes um sentido erótico que não têm, é coisa de tarados. Se a
Justiça nada pode, então é o caso de convocar a medicina.
Peço a vocês que comentem com moderação. Este blog, como é sabido, não é
homofóbico. Ele é estupidofóbico!
Por
Reinaldo Azevedo
Comecemos pelo
lead, pela notícia do dia, porque o início dessa história está lá atrás, em
junho do ano passado. Já conto. O Setorial LBGT (lésbica, gays, bissexuais e
transgêneros) do PT divulgou nesta quinta uma nota de repúdio ao senador do
partido Lindberg Farias (RJ). O que ele fez? Num discurso em plenário,
solidarizou-se com o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, que está
sendo acusado de homofobia pelo Ministério Público Federal. Mas o que fez,
afinal de contas, o pastor? Então agora é preciso recuar a junho do ano
passado.
O tema da marcha
gay de 2011, em São Paulo, a maior do país, fazia uma óbvia provocação ao
cristianismo: “Amai-vos uns aos outros”. Nem eles nem os cristãos são ingênuos,
não é? O “amar”, no caso, assumia um conteúdo obviamente “homoafetivo”, como
eles dizem. Como provocação pouca é bobagem, a organização do movimento
espalhou na avenida 12 modelos masculinos, todos seminus, representando santos
católicos em situações “homoeróticas”.
Tratava-se de uma
agressão imbecil a um bem, destaque-se, protegido pela Constituição. Na época,
escrevi:
“Sexualizar ícones
de uma religião que cultiva um conjunto de valores contrários a essa forma de
proselitismo é uma agressão gratuita, típica de quem se sente fortalecido o
bastante para partir para o confronto. Colabora com a causa gay e para a
eliminação dos preconceitos? É claro que não! (…) Você deixaria seu filho
entregue a um professor que achasse São João Batista um, como posso dizer,
“gato”? Que visse São Sebastião e não resistisse a o apelo ‘erótico’ de
um homem agonizante, sofrendo? O que quer essa gente, afinal? Direitos?”
Ah, sim: a proposta então, não sei se
levada a efeito, era distribuir 100 mil camisinhas que trouxessem no invólucro
a imagem dos “santos gays”. A hierarquia católica fez um muxoxo de protesto,
mas nada além disso. Teve uma reação notavelmente covarde. O sindicalismo gay
reivindique o que quiser! Precisa, para tanto, agredir a religião alheia?
Embora, por óbvio, não seja católico, Malafaia reagiu em seu programa de
televisão. Afirmou: “É para a Igreja Católica entrar de pau em cima desses
caras, sabe? Baixar o porrete em cima pra esses caras aprender. É uma
vergonha!” Ele acusou os promotores do evento de “ridicularizar os símbolos
católicos”. Teve, em suma, a coragem que faltou à CNBB!
Pois é. O
Ministério Público viu na sua fala incitamento à violência!!! Ah, tenham
paciência, não é? O sindicalismo gay tem de distinguir um “pau” que fere de um
“pau” metafórico — ou “porrete”. Alguém, por acaso, já viu católicos nas ruas,
em hordas, a agredir pessoas? Isso não acontece em nenhum lugar do mundo! O
contrário se dá todos os dias: o cristianismo, nas suas várias denominações, é
a religião mais perseguida do mundo, especialmente na África e no Oriente
Médio. E, no entanto, não se ouve um pio a respeito. A “cristofobia” é hoje uma
realidade inconteste. A homofobia existe? Sim! Tem de ser coibida? Tem! Mas nem
as vítimas desse tipo de preconceito têm o direito de ser “cristofóbicas”!
É evidente que “baixar o pau” ou
“porrete”, na fala do pastor, acena para a necessidade de uma reação da
religião agredida — legal, se for o caso. É uma metáfora comuníssima por aí
afirmar que alguém decidiu pôr outrem “no pau”, isto é, processá-lo: “Fulano
pôs a empresa no pau”, isto é, “entrou com um processo trabalhista”. Os
cristãos, no Brasil, não agridem ninguém. Mas são, sim, molestados, a exemplo
do que se viu há dias numa manifestação contra o aborto. Faziam seu protesto de
modo pacífico, sem agredir ninguém, quando o ato foi invadido por um grupo de
abortistas. Estes queriam o confronto, a agressão. Ganharam uma oração.
A ação contra
Malafaia, na verdade, tem um alcance maior. Ele é um dos mais notórios críticos
da tal lei que criminaliza a homofobia — e que, de fato, avança contra a
liberdade de expressão e a liberdade religiosa. Os que cultivam os valores da
democracia não precisam, no entanto, concordar com o que ele diz para
reconhecer seu direito de deixar claro o que pensa.
Vejam como
autoritarismo e hipocrisia se cruzam nesse caso. Os agressores — aqueles que
levaram os “santos gays” para a avenida — se fazem de vitimas e, em nome da
reparação a um suposto agravo, querem punir um de seus críticos. É um modo
interessante de ver o mundo: os sindicalistas do movimento gay acham que, em
nome da causa, tudo lhes é permitido. E aqueles que discordam? Ora, ou o
silêncio ou a cadeia!
É assim que
pretendem construir um mundo melhor e mais tolerante.
FONTE: VEJA
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